Hoje, dia 11/07/2025, uma sexta-feira, dia da feira livre da minha mater-trópole (grifo meu). Feira livre, para mim, evoca momentos, circunstâncias que nenhuma rede social chegará perto em descrever, muito menos, vivenciar. Dia em que diversas pessoas da zona rural, penteia-se e coloca-se perfumes diversos. Nesse universo dos odores, uma senhora passou de frente a mim com um cheiro daquele perfume forte, chamado na minha infância de “espanta nigrinha!”. Por questões de instantes fui levado, por via do odor, a vivência de um período de minha vida em que acertos e compras se faziam no dia da feira. Nesse caso específico, aos sábados. Pois venho do distrito de Salgadália, era e permanece ainda aos sábados. Levávamos para casa, carnes frescas da região das cabeças do boi e ubre. Depois narrarei a diversão de comer ubre frito, o qual se esfriasse talharia, ensebava, em nossos lábios. Voltando ao odor do tabu, o nome da colônia. Remeteu-me aquelas mulheres que no dia de sábado, lavavam o cabelo, colocava batom nos lábios e espalhavam nas bochechas, acredito para transparecer sadias, pois ficavam mais vermelhinhas, coradas.
Tenho o prazer de ter vivido antes e vivendo o durante essa era dos likes. Like do inglês que seria para nosso português, gostar. Quando alguém clica no like, entende-se em teoria, que a pessoa tenha gostado da publicação. Tornou-se a manifestação hodierna de amar. Não sei como, mas é o que está aí. Se vivi antes e vivo durante, significa que a transição eu, também, vivi. Não relato mediante saudosismo ou nostalgia. Simplesmente, pela constatação. Mas, admito, não tínhamos tantos ansiosos como na atual sociedade. O “espanta nigrinha” de hoje, fez-me visitar tempos que as fotografias e likes não entendem e não vivem. Confunde-se e muito na atual conjuntura, receber curtidas com gostar ou não de mim. Reles ilusão das curtidas. Têm que ter coisas que a fotografia na estanca nelas, momentos que só pertencem as vivências. O “espanta nigrinha” tem memórias e puxam as minhas, arrebatam-me. Fui para além do estar corpóreo. Hum… que cheirinho, um xêro!
José Roberto
Zezinho